Teu perfume na minha roupa.
Nada melhor do que partires e te deixares ficar encurralado
em mim sob forma de essência transparente que se encosta ao meu peito e me
penetra na pele como um vírus benigno. Nada melhor do que estares fora de mim e
tão bem dentro, preso a mim como cheiro que inspiro como se precisasse dele
tanto quanto o oxigénio que respiro.
E eu feita parva
riu-me como se aquele perfume desenhasse o meu sorriso ou escrevesse a história
da minha vida,querendo fugir à verdade que ele é mesmo.
Parece que te vejo aos meus olhos sem que estejas, fantasma
da minha alma. Parece que te beijo como
quem beija em silêncio. Parece que te pego no colo como quem pega no mundo
inteiro com uma só mão. Porque ao ter-te
é preciso preservar-te, é preciso te cuidar
e tratar-te como fosses um bébé grande que muito já sabe.
Quando me sinto
dentro de ti? Eu nos imagino sentados na lua observando as estrelas. Eu cada
vez mais fechando os olhos, consequência do entrelaçar dos teus dedos nos meus
cabelos, e sussurrando ao teu ouvido “O
último a adormecer apaga a luz.” Não falo da luz elétrica mas da que as
estrelas nos iluminam nesse palco galáxico . Daqui a pouco começará um novo dia
e o sol erguer-se-á.
E quando me sinto dentro de ti, me imagino num templo
rodeado de um jardim de rosas vermelhas que me ofereces todos os dias pela
manhã quando me dizes “Bom dia princesa”.
E quando me sinto dentro de ti, nos imagino a tomar o chá das
cinco já perdidos em tentações como se a idade não nos carregasse peso, como se
a gravidade não nos quisesse enterrados. Mas a morte não nos preocupa quando
morreremos juntos.
Quando me sinto verdadeiramente dentro de ti , nos imagino caídos
em sonhos por dentro do calor confortante da lareira porque sonhar não nos custa,
sonhar faz-nos crescer tanto como pessoas que somos como por tudo “isto”.
“Isto” que nos resume, que nos une, que nos identifica. “Isto”
é áquilo que uma pessoa normal chamaria amor, mas que nós ainda não demos nome.
Porque para nós “amor” ainda é uma palavra fraca para definir tudo “isto”. “Isto”
é tão bem mais difícil de dar nome do que ao filho que um dia teremos por
consequência d’”isto”.
Vês? Até no teu cheiro me perdi…. E agora não me calo.
Mas o resto ficará entre nós e apenas no ceio de nós.