segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Hábito

E então quando você se habitua a algo? Quando você se habitua a dormir de uma forma, quando você se habitua a ouvir um tipo de música, quando você se habitua a acordar com o som irritante do despertador, quando você se habitua a ir todos os dias para o seu trabalho por ser um dever seu, quando você se habitua a comer aquela fruta depois do jantar, quando você se habitua a sonhar acordado, quando você se habitua àquela sopa bem gostosa da avô, quando você se habitua a levar com o frio no inverno e com o calor no verão, quando você se habitua a ver o escuro todas as noites, quando você se habitua a viver numa morada nova...  Infinitos hábitos. Mas e  então quando você se habitua a estar com alguém?
Um dia me disseram que quando surge um sentimento por alguém é à custa do hábito. Eu achei ridículo porque é óbvio que quando surge um sentimento é porque lidamos normalmente com essa pessoa mas também é porque ela tem algo aos nossos olhos que os outros não têm, algo que nos faz querer ser como elas, algo que nos apega a elas. Mas vendo bem, essa pessoa talvez tivesse um pouco ou talvez muita razão. Quando você perde alguém com quem sempre se habituou a estar reage normalmente? Talvez sim, talvez não. Normalmente não. Você sente falta na sua rotina, falta das brincadeiras, dos sorrisos ou das lágrimas que choraram juntos, falta das festas que dançaram juntos, das chamadas pelo telemovel, das conversas, dos desabafos. Até das discussões,dos berros que tiveram/deram você sente falta. Tudo que se tem como tudo fica como nada. Tudo porque a rotina não é mais rotina e você sente que falta uma coisa no seu dia que antes não faltava. Então o hábito leva ao sentimento? Sim. Como poderiamos gostar de alguém que mal conhecemos, que mal lidamos, que não faz parte do nosso habitual? É impossível, isso não é gostar. Talvez o próprio hábito seja um sentimento, um sentimento bom ao qual ninguém ainda deu nome, mas que surge com o aumento de todas as vezes que você se senta ao lado do mesmo alguém, de todas as vezes que você tomou café com alguém, de todas as vezes que você abraçou alguém, de todas as vezes que foram à padaria comprar pão ou à loja das gomas comprar doces. Talvez seja mesmo isso.
Quanto maior a rotina e o hábito maior será depois a deixa,mais difícil será.
Como defende Ricardo Reis : devemos viver a vida de forma calma mas sem ceder aos impulsos dos nossos instintos pois eles podem trazer suas consequências inevitáveis.